Voltar a Perdoar
As vezes feitas traição, ajustam as dores do coração. O amor perdoa a carne, mas a razão julga a emoção. Numa qualquer disputa oposta, os extremos se complementam e definem. Saber ceder e ousar esquecer. Saber fechar a dor e esperar por novo amor. Uma vez alcançado o estado divino da abstracção e da neutralidade perante comportamentos e atitudes desviadas, a humanidade, de novo retorna e o mundo começa a recompor-se da descompostura em que velejava. O desnorte é esquecido e o rumo regressa quase incólume, numa promessa de futuro conseguido, alcançável. Uma verdade perdida por momentos ténues. O ciclo fecha e logo é retomado. A volta do perdão é contínua e nunca termina. Passa um, dois, três estranhos conhecidos, que na verdade nunca se conheceu, ou antes, se pensava conhecer, e tudo subsiste. O perdão fica. A capacidade de perdoar e seguir em frente. De esquecer o amor que magoou e perseguir o sonho da felicidade eternamente boa e bela. E, por isso, voltar a perdoar co-habita com a tristeza da separação e da solidão, mas faz-se. E a tranquilidade, passado algum tempo, muito tempo, se abate sobre quem perdoou e amou e perdeu. Quem amou e perdeu espera reerguer-se, reencontrar-se e sobreviver. Amar um dia, mais uma vez, talvez.