Verão nas Alturas
Tendencialmente associa-se, com benévola saudade estival, o Verão a praia. Água azul turquês, areia escaldante e cetinosa, ondas flat q.b., desportos aquáticos radicais, bebidas exóticas efusivas, biniquis xxxsl e calções de design palmeirista. Esquece-se, no fundo das emoções gélidas do Inverno, no baú do inconseguimento, tudo o resto. E o resto tem que se lhe diga. A cadência dos actos naturais endémicos, renasce e revitaliza-se no não ermo exuberante das verdejantes cadeias montanhosas que sulcam, aqui e ali, o povoamento estonteantemente belo que se arquitecta, com harmonia perfeita, por vales e recantos daqueles sagrados santuários naturais. A estrada circunda, serpenteia, sobe, desce, decliva, inclina, mexe e remexe numa gincana de atrevimentos rurais, por vezes, rudes e agrestes, outras vezes, verdadeiramente deliciosos e deslumbrantes no observatório viral da visão. A altura é considerável. Os planaltos existentes são envergonhados e discretos. As rectas difíceis de encontrar. Perfila-se um encadeamento vertical profuso. Espreguiçar sabe bem. Olhar o céu e fantasiar formas nas nuvens, embala o espírito olvidado nos encaminhamentos de magia, abundantes em frescura desmesurada e entorpecidos nas ilusões viscerais apartadas dos caminhos cruzados por tantos estranhos e hasteados por tantas nuances de verdura arbustal entrelaçada nos nós dos troncos de filigrana requintada. A fauna integra-se na paisagem e resguarda-se nos cenários idílicos. Uns, endémicos, outros artificializados ou importados, mas todos na paz gloriosa do silêncio abismal deste verde vivo e imaculado. Subir a telhados é impossível. Fechar-se na redoma urbana, improvável. Escutar os sons da natureza, um privilégio. A gastronomia deleitosa, no prato de barro, reflecte o antigamente do pão de aldeia comunitária. Prazeroso, é simplesmente estar à beira ribeiro sentados, nas mesinhas de carvalho do piquenique da nossa infância, elevando-se a sensação de alcance divino. Assim é, no Verão nas alturas. A lonjura do céu aperta de mansinho e a terra substitui o mar, o verde, o azul e a brisa perfumada da montanha, a marítima. Fechar os olhos e deixar os sentidos flutuarem num mix experimentalista de novas sensações e extrema felicidade terrena, recomenda-se. Sem dúvida.