Tempestade Leviana da Alma
A abertura da janela escusa permitiu a invasão. As folhas sopradas encheram o espaço quadrado e deixaram um rasto de tonalidades castanhas pelo quarto. Quem abrira a janela, esquecera-se de a fechar e os ventos do Outono agradeceram o convite. O frio era ilusório. A estranha tempestade trouxera calor. Um abafo desperto abraçava a casa, a vila, as gentes. Uma sombra passada pairava por ali, com uma aura confusa. Assuntos da alma por resolver. Desgosto mortal. Apenas o vento. Suposições encantatórias do folclore ancestral. O passado sempre pesa, mas a vida sempre contínua. A leviandade de um destino ousado superou a vivência de um caminho tortuoso trilhado, na esperança de algo maior e melhor. O sonho comandou a alma e a alma não soube racionalizar a emoção e corrigir desvios emocionais abrasivos. Assim, aquele quarto, agora pintado de Outono, trazia uma sensação de paz capacitadora de ilusão e de ultrapassagem espontânea da leviana candura da razão, numa tempestade dos sentidos e da alma. Certo ou errado? Razão ou emoção? Sonho ou realidade? Ponderar toda a existência, numa sequência de sim e não consciente requer o abandono de tudo o que não é terreno e a busca de uma espiritualidade que dá conforto e descanso. É, pois, consensual que a tempestade leviana da alma enriquece os desígnios, os destinos, os caminhos, as vidas, os sonhos. Só assim, não se esquece a liberdade e se aceita a leviandade da alma como uma fracção incontornável da pequena humanidade que ainda habita em nós.