Stacey Kent
E porque o Verão também se faz de música em contínuo, ontem, foi a vez de Stacey Kent nos deliciar os sentidos com a doçura terna da sua voz melodiosa, cheia de nostalgia. Um aplauso bem forte, muito sentido, para a enérgica e estreante Marta Ren e a sua banda, que fizeram a abertura do concerto, apresentando o albúm “Stop, Look, Listen”. Apesar do público, inicialmente, se mostrar contido relativamente à exuberância das movimentações em palco, rapidamente se deixou conquistar pelos sons e ritmos contagiantes da portuense e dos Groovelvets. Foi uma agradável e refrescante surpresa e o início da noite animava-se assim, prometendo um concerto auspicioso. E tal aconteceu, mas num ritmo mais moderado de expectável acalmia musical, compatível com os encantos musicais da americana de voz melosa e doce. Uma vez mais, o vento foi constante companheiro de viagem, fazendo as árvores dançar e envolvendo-nos copiosamente no belo jardim que servia de palco ao espectáculo, criando assim um cenário idílico e algo místico. Muitas influências brasileiras e tributos a Vinicius e Tom Jobim encheram a noite, que nos foi abraçando com as notas musicais sublimes e sedutoras que se iam soltando harmoniosamente da sonoridade singular do sweet soul jazz feito em palco. O público rendeu-se aos encantamentos e feitiços da música da cantora e deixou-se levar na soft wave que premiava o romantismo e a envolvência das toadas pacificadoras que ecoavam na brisa perfumada. A beleza da articulação vocal cantada era interrompida, apenas, por tiradas de prosa, em português abrasileirado, que iam introduzindo as musicalidades e contando pequenas histórias. Nota ainda para o fabuloso solo do baterista, numa sequência quase tribal de ritmos puros e primitivos sambistas que mereceu uma ovação extraordinária e para as canções em francês, numa subtil e singela homenagem a um povo que está, neste momento, a sangrar tristemente. Um serão bem passado, com muito boa música e muita emoção. Recomenda-se.