Se Eu Fosse Eu (Histórias de Uma Vida Banal) - "Se Eu Não Fosse" (Parte I)
O que nos leva a continuar? Todos os dias as sôfregas notícias medianas do mundo acarretam dor e morte. Morte. Dor. Sofrimento. Sempre mais do mesmo. E o mesmo por demais. Somos uma espécie brilhante. Única no firmamento. Perfeita na razão. Inconstante na emoção. Sentimos e fazemos sentir. Sempre mais do mesmo. E o mesmo por demais. Se eu não fosse, o que seria? Desconcerta-me pensar que sou apenas mais uma na fila vasta de géneros e feitios escravizados pela incontenção do Pai de Todos. E a Mãe de Todos? Onde está? Porque nos abandona à racionalidade irreversível do estuporado vidente do outro lado? Perdeu-se? De nós? Dos seus mortais filhos? Atreves-te a pensar, tal como eu, para além do real, da aficção barata que te espetam num funil de obturação controlada e censurada? Atreves-te? Talvez a Mãe de Todos te escute, finalmente! Mas, e se ela também não fosse e se ela não é? Se só existe um dos progenitores surreais desta inhumanidade decrescente, ainda que expectante? Aguardam. Em vão. Mas o quê? O que esperam? O que os leva a continuar a derradeira viagem mortal? Uma só coisa. Esperança. O Cabo das Tormentas, o Adamastor, tornado Cabo da Boa Esperança. Em boa hora virá. Em boa hora a esperam. E ela tinge-se tenuemente num fio leitoso de espinhosa rosa desbrotada no veio anelar de um sonho desprendido de descomprometimento estéril e decrépito jorrado pelo olhar estigmatoso da Mãe de Todos. A rosa seria ela, não fosse eu não ser e o Pai de Todos também não ser quem é. A luminosidade reencontrou os cantos da sala de redenção. A paz achou-se. A esperança estabilizou no subconsciente do vassalo abrasador do vizir estonteado pela filosofia barata do pensador do lado.