Se Eu Fosse Eu (Histórias de Uma Vida Banal) - "Se Eu Fosse" (Parte II)
O quarto foi invadido por um oceano de águas profundas que desfez a realidade e abriu, ao mundo, ela e o bebé. Deixou-os ir. Levavam-se um ao outro. Pela mão. Respiraram o ar feito de água e sobreviveram. A magia da bruxa da outra encarnação protegia-os. Os destinos estavam unidos. Para sempre. Ou não.
Quando entraram no mundo da fantasia, repleto de cor de rosa e fadas e algodão doce e chocolate e morango e chantilly e amor e felicidade e... e... e... e... e... esqueceram a vida terrena e aceitaram. Todos absorviam o seu misterioso papel naquela peça de teatro imaginária, mas genial. Emprestavam os seus corpos aos atores de um filme sem argumento, sem cenário, sem realizador. Divertiam-se com o improviso do... Se Eu Fosse... O quê? O que seria? O que sou?
Um estalar de dedos acordou-os do transe. Ela e o bebé voltaram ao quarto, a bruxa sumiu-se na busca do caldeirão da sorte azarenta e o ar encheu-se de um denso nevoeiro apocalíptico que cortou abruptamente o contacto com o subconsciente cristalizado. O cenário desmanchou-se e a vida prosseguiu. O que quer que fosse que necessitasse de ter sido aprendido com esta lunática experiência, fora-o. E a marca perdurará. Nas suas almas e nas suas reencarnações encenadas.