Os Agueiros da Esperança
Obreiros de sonhos imprevistos, os agueiros da esperança renovam-se miraculosamente a cada cem anos. Abre-se uma fissura na terra seca, expande-se o espaço, apartam-se os tempos. A discrição impera. Os incautos que se cuidem na sua inocência ingénua. Os buracos no solo são cuidados e quase imperceptíveis. Sempre que o mundo se afunda, os agueiros da esperança renascem e a confiança é incrementada exponencialmente. A questão premente que se coloca é encontrar um método eficaz e eficiente, capaz de calcular a previsibilidade da aparição. Os antigos estudaram as estrelas e as imprudências terrenas, mas o cálculo, o método nunca foi descoberto. A sua essência permanece um mistério por desvendar. Assim, a única referência indicativa potencial são os escritos descritivos, relativos a prováveis aparições, reunidos ao longo dos séculos pelos estudiosos, que funcionam como guia linear de futuras possíveis datações extrapoladas. O mundo está a afundar-se e aproxima-se uma dessas datas. Os guardiões da história andam efusivamente ansiosos. O discernimento implica desenvoltura para ampliar a extravagância da abrangência deste acontecimento. Conta-se que o céu estrelado indica, na primeira noite de luar do estio, um ponto no horizonte, brilhante e bem destacado, revelador dos agueiros da esperança. Olhamos agora o céu estrelado. Esperamos. Impacientamo-nos. Vemos. Não acreditamos, mas é verdade. O referencial desafiante está lançado. Tudo é possível. Tudo é real. O dia seguinte será bem melhor. O mundo deixará de se afundar e a vida irá sorrir. Os agueiros da esperança cumpriram a promessa de uma continuidade fluida e expectável, consistente e consolidada. O status quo remains.