O Terraço
Parece simplista demais atribuir tamanha importância a um terraço, no entanto, este não é um terraço qualquer... Quando aterramos na ilha, agradecemos sempre aos deuses a chegada abençoada e sem sobressaltos. É um ritual místico e necessário. Depois, seguimos pelos túneis infinitos e obscuros, esquecemos a paisagem já bem conhecida e o mar, logo ali ao lado, e chegamos ao nosso norte. E estamos em casa. Ou quase. A placa que identifica a pequena vila surge logo depois da (queremos acreditar) última curva. Fazemos um pouco da estrada principal e viramos para a ladeira que nos transporta ao caminho secundário, iniciando-se uma nova sequência de curvas. Passamos a Escola Básica e a padaria e chegamos ao nosso destino. Estacionamos e nova ladeira nos desafia, a pé. Antes, a avó vinha esperar-nos com o seu sorriso doce e terno e um abraço. Agora, restam as memórias desse toque e desse gostar. A casa continua na mesma. Nós é que vamos mudando e sentindo as coisas de uma outra maneira, de outra forma. Mais intensa. No terreiro da casa, revive-se o tempo passado, mas, a primeira coisa realmente a fazer é, claro, subir ao terraço. A escada leva-nos a um novo mundo. Um mundo com um cenário de beleza pura, virgem, verde, humana, natural. À nossa frente, a cultura das terras trabalhadas, o miradouro e a encosta profusa de vida. À direita, o pico. As montanhas de recortes irregulares, fustigadas pelas nuvens que teimam em fechar-nos a porta. À esquerda, o mar infinito e a ilha, lá longe, no horizonte. Atrás, a vila em todo o seu esplendor, encaixada em vales e encostas, com a igreja a marcar o centro. Avista-se o corgo e as casas megalómanas de quem teve de ir para fora fazer fortuna. Aquele terraço enche os sentidos. Depois, fechamos os olhos e sentimos as coisas que nos rodeiam: cheiros, brisas, sons... E deitamo-nos no terraço que nos viu crescer. E sonhamos. Felizes.