O Sonho da Princesa Mulher
Despertara, naquele dia, sem a intenção certeira de pôr os pés fora da cama, no chão frio. O mármore do palácio ficcional enregelava até o coração mais quente, mas adorava desafios e contrariedades, por isso, a impetuosidade de uma noite mal dormida abafava qualquer sensibilidade mais incontornável que pudesse experimentar. Sentiu o chão. Combinara uma saída fútil e despropositada com alguém e arrependera-se. Tocara o chão. Gelado. Enrolada nas roupas de cama, fugiu para um outro cubículo. As divisões estavam separadas por muros de arbustos. Palácio estranho, pensou. A cama esfumara-se, mal se levantara e o chão deixou de estar frio. Aquecia a cada movimento dos seus pés. De repente, estava vestida. Horrivelmente vestida. O traje de princesa didn’t suit her. Malvado sonho que me faz inventar coisas tão estúpidas e pink. Havia algum tempo que não sonhava. Este, devia ser o castigo. Sonhar com coisas non sense e perfeitamente estúpidas. A história sempre transformou todas as mulheres em princesas. Incutido desde a infância, este sonho ilusório determina a vida futura das princesinhas enganadas. A espera pelo príncipe encantado, os vestidos cintilantes, as tiaras de diamantes, os palácios fabulosos, os quartos gigantes, o amor verdadeiro, a felicidade eterna e a musicalidade de todo o cenário envolvente. Uma ilusão. A realidade mata. Depois. Mais tarde. Enfim, vestida de princesa, deambulou por corredores. Parecia dirigir-se a algum lado em particular e a lado nenhum. Estava confusa. O mundo fugia-lhe sob os pés. Voava agora. Sobre o oceano, montanhas e vales. Que visão divina. Se calhar, sonhar que somos princesas é assaz revelador. Engana-me, que eu gosto. Sonha, que eu esboço sorrisos sarcásticos. O cenário mudou e... O que se segue? Não sei. Fechem os olhos e deixem-se levar.