O Sol na Pregadeira
A lua baixou no horizonte a monte,
O sol subiu no céu escaldante,
O tempo parou sorrateiro no depois,
O inverso reverteu e o momento ficou só a dois.
O cabelo que solto ondulava,
No vento da manhã ainda sem pregadeira,
No vento que se quis serenado,
No vento, uma vez mais, inventado.
A pregadeira agora ao peito,
No casaco de pele sem sinal,
Engana a outra sombra,
Faz deambular vistoso e magia que encanta no final.
Os reflexos fechados,
Os tons abertos,
O mirante despontado,
O viajante desperta atordoado.
O sol aquece,
Mas a face logo arrefece,
O vento já não mais serena,
A pregadeira, afinal, tudo encena.
A magia que acontece,
Num fechar de olhos pesados e tristes,
Calibra a alegria que renasce de novo,
Na falácia de um teatral cenário, em que tudo depois desaparece.
Acredita, quem tem a pregadeira,
Que o tempo será infinito,
Que a vida acontecerá sem morte,
Que a beleza ainda figurará encanto na torreira da sorte.
O sol na pregadeira,
Naquela pérola mágica,
Naquela joia perfeita,
Naquele presente percebido, confere protecção a qualquer maleita.
Nada se compreende da confusa história,
Contada pela dona da pregadeira,
O que aconteceu no passado é mistério sério,
O presente é quase incerto, o futuro é vela acesa, talvez, para alcançar a glória.