O Que Quer a Humanidade?
Inevitavelmente, quem ainda se preocupa com pensamentos mais cépticos, introspectivos, sociológicos, antropológicos, filosóficos e não tão lineares, sobre a real existência e propósito do ser humano e da humanidade, já se questionou, com a abstracção necessária para não enganar o hemisfério racional (cuja ficção deambula extravagantemente pelo surrealismo do desconhecido), sobre qual a verdadeira demanda que nos incute a todos, enquanto espécie a continuar, não se sabe bem para onde, nem porquê, mas, a continuar, a não desistir, a ter esperança, a ter fé, num futuro melhor e maior, sustentável e duradouro. E o que é o nosso futuro? O que é um futuro melhor? O que é para mim, não é para ti, nem para eles, nem para a maioria, pelo menos, em consonância neural plausível. O nosso problema actual e substancial é que, enquanto espécie, não agimos no interesse comum, não há uma união conciliadora para estabelecermos objectivos concretos e reais, em comunidade, numa óptica global e universalizante. A realidade é esta. Há muito se perdeu a virtude, ou não, de agilizarmos e transformarmos em actos consubstanciados e comportamentos visíveis, teorias e brainstormings centenários ou mesmo seculares. Cada qual cuida de si, dos seus interesses e vive a sua vida; com sorte, corre tudo bem e as coisas más passam ao lado. Sobrevive e morre feliz. Cada vez mais, o ser humano se está a tornar num ser individual e individualista. A característica que sempre identificou humanamente a espécie está a perder-se, a volatilizar-se no tempo e no espaço. O instinto de sobrevivência já não se reporta somente e unicamente à espécie, porque alcançamos o expoente máximo de superioridade na cadeia de valor hierárquica, a nossa única ameaça somos nós mesmos. Na realidade, cada qual quer encontrar o seu próprio caminho, o que não teria nada de mal se, no decurso dessa senda, respeitasse os princípios e valores inultrapassáveis do tal propósito subjacente na génese humana, o propósito existencialista da espécie, o propósito comum. Continuamos a ser mais fortes juntos. Alguns dizem. Neste momento, queremos mais e o mais está a matar-nos sem nos darmos conta. A espécie está em declínio. Queremos ser o que não somos. Ganância, poder, capital, mobilizam-nos. As aparências iludem. A tecnologia está a ganhar. O que não tem mal nenhum, quando canalizada para o bem geral da humanidade. Então, o que quer a humanidade agora? A humanidade individualista, centrada no indivíduo quer “viver à grande”, ser the best, the winner, ter poder e liderar tudo e todos. Como isto não é possível, nem concretizável, nem tão pouco atingível por todos os indivíduos, surgem as frustrações, os desvios, a raiva, a tristeza, as depressões, as insatisfações, os sonhos gorados. Parece que estamos a perder a esperança e a fé na humanidade. Talvez, por agora, a desilusão seja demasiado avassaladora. Quero crer que poderemos, um dia, mudar as coisas. Para melhor. Quase sempre o fizemos, mas, desta vez, o futuro parece mais turvo, mais incerto, mais assustador, mais apocalíptico. Acreditemos, no entanto, que a mudança positiva é passível de se fazer, que tudo ficará melhor e que a capacidade de nos colocarmos no lugar de um outro ser se tornará visionária e operacionalizável, num retorno ao revivalismo da beleza interior humana, no que de melhor a espécie tem e no que de melhor faz e sabe fazer.