O Plano
Se extrapolarmos a vivência expectável passada, compreendemos que o tempo não se ajusta à nossa felicidade e que a nossa história, em crescendo, fica irremediavelmente ultrapassada pelo turbilhão ambulatório das emoções mal amadas e mal paradas. O mundo está, desde a primordial inspiração divina ou pagã da vida, contra nós. Malfadado fado. Eterno contorno virtual idolatrado. Rogatória impotência. Fictícia crença. A banalidade dos actos, em contínuo, numa linha paralela, enganam o mais fervoroso descrente. O plano, traçado à nascença, raramente se pauta pelo seu cumprimento estrito. A razão intemporal ilude a amargurada alma, num filme extrapolado de amantes ingénuos. A alma e o coração pecam constantemente, jamais cumprindo o tal potencial plano aplaudido por uns, assobiado por outros. A confluência dos sentidos, nesta amálgama de frustrações continuadas, carece de comprovação realista e atira para o abismo momentâneo a fundura da vitória passiva e destemida. Aquele plano inconsequente altera o destino. A rota traçada afunda numa panóplia de mentiras conjuradas, num qualquer caldeirão de tentações. E se fosse cumprível? Fazível? Controlável? Afinal, um plano pressupõe determinismo consequencial e sequencial, ainda que as variáveis abonatórias se proporcionem a volatilidades constrangedoras. Na realidade, no mais pragmático confluir de vivências concretizadas, está provada a falha crassa de um plano, independentemente da vontade subjacente. A verdade é que as probabilidades embatem num mural de imprevistos e incertezas incontornáveis. Assim é, assim foi e assim será. O elemento surpresa define a história, a mudança engrena na vida e os sentimentos não têm lugar destacado, porque o existencialismo racional comanda o espectro humano e mata a essência purista do sonho inocente. Potenciemos, pois, num qualquer universo transversal, a emoção, equilibrando estoicamente o desconcerto da razão, equilibrando a rotina, a família, o trabalho, a vida, o ser.