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A Esquina do Desencontro

Histórias de Desencontros Ficcionais (ou Não) na Esquina da Vida

O Ninho Vazio

31.08.22 | Cuca Margoux

A fundação maternal penosa,

Feita de incandescente lealdade,

Despropositada na factual comoção,

Transparece um qualquer ninho em liberdade.

 

O tempo de família que se fez sem tempo,

Num espaço fluido e esvoaçante,

Feito de ousadia e de controvérsia,

De rebeldia e de incontável peripécia.

 

Depois da estranha viragem,

Despertada que foi a curiosidade,

O espaço geral minguou,

E o destino tudo, afinal, apartou.

 

O ninho (re)construído,

Se entrelaçou com o mundo sorrateiro,

Mas a prole tem de se deixar soltar,

Numa viagem longa pelo imenso mar.

 

As preces das mães,

Escutadas em uníssono,

Despertam o sentir do coração,

Revertem saber num abraço sem contenção.

 

A fuga indelével acontece,

Mais cedo do que se espera,

O vazio aperta tanto agora,

O silêncio e a confusa rotina já não duram mais que uma hora.

 

O ninho vazio ficou,

Num choro mudo acordado,

Numa queda amargurada,

Numa centelha desligada.

 

A vontade daquele sonho maior,

Do destino e do fado aventureiros,

Promove audácia com alguma bondade,

Numa convivência cega encerrada em saudade.

 

O dia de novo nascerá,

Na ilusão da doce continuidade,

Na devoção de uma nova maternidade,

Na intenção de tudo se amar com plena sonoridade.