O Ninho Vazio
A fundação maternal penosa,
Feita de incandescente lealdade,
Despropositada na factual comoção,
Transparece um qualquer ninho em liberdade.
O tempo de família que se fez sem tempo,
Num espaço fluido e esvoaçante,
Feito de ousadia e de controvérsia,
De rebeldia e de incontável peripécia.
Depois da estranha viragem,
Despertada que foi a curiosidade,
O espaço geral minguou,
E o destino tudo, afinal, apartou.
O ninho (re)construído,
Se entrelaçou com o mundo sorrateiro,
Mas a prole tem de se deixar soltar,
Numa viagem longa pelo imenso mar.
As preces das mães,
Escutadas em uníssono,
Despertam o sentir do coração,
Revertem saber num abraço sem contenção.
A fuga indelével acontece,
Mais cedo do que se espera,
O vazio aperta tanto agora,
O silêncio e a confusa rotina já não duram mais que uma hora.
O ninho vazio ficou,
Num choro mudo acordado,
Numa queda amargurada,
Numa centelha desligada.
A vontade daquele sonho maior,
Do destino e do fado aventureiros,
Promove audácia com alguma bondade,
Numa convivência cega encerrada em saudade.
O dia de novo nascerá,
Na ilusão da doce continuidade,
Na devoção de uma nova maternidade,
Na intenção de tudo se amar com plena sonoridade.