O Natal Já Não É o Que Era
No meu tempo. Que início mais estúpido. No nosso tempo. Pior ainda. Há algum tempo, umas décadas, portanto, século passado, o Natal era um bocadinho diferente. Fruto da contenção dos tempos, do início de uma liberdade prometida e de sonhos desejados, tudo tinha um significado muito mais profundo, e os presentes natalícios eram sonhados ao longo de todo o ano. Por vezes, havia comedimento tal que obrigava a escolher apenas um presente, de toda uma panóplia dos então apetecíveis sonhos desejados. O(s) pedido(s) era(m) feito(s) e se o comportamento anual tivesse sido merecedor, o(s) presente(s) surgiria(m) no sapatinho, na manhã do dia 25 de Dezembro, trazido(s) pelas mãos mágicas de um Pai Natal invisível, mas escrutinador. Os pedidos eram sonhados. Os presentes desejados estimados, quando recebidos. E duravam, duravam, duravam. Hoje, a banalização do consumo desenfreado, permite trocas e baldrocas tresloucadas e insanas. Os petizes escolhem eles mesmos, na grande maioria das vezes, os seus presentes ao vivo. E o dar até mais não, é prática recorrente e viciante, para miúdos e graúdos. As últimas modas, os últimos modelos, a última tecnologia, as novidades do último ano, todas concentradas e compiladas num único dia, em que todos podem ter tudo (ou quase tudo) o que querem ou desejam. Exageros extremistas à parte, a realidade é, infelizmente, bem verosímil. Assim, a família continua a ser importante, mas mede-se o gostar natalício muito pelo tamanho do presente, do seu impacto, exuberância, e do seu custo. Levada à letra, esta crónica natalícia é deprimente, no entanto, profundamente realista. O Natal já não é o que era. Simplicidade, Amor, Paz, Família e Tradição. Este Natal, tal como em todos os outros anteriores, fiz presentes. Deixo, assim, sempre um bocadinho de mim com todos aqueles que amo e de quem gosto. É pessoal e inimitável. Único e singular. E é feito em casa, com muito amor. Pensem nisso.