O Estado Humano
Se andarmos pelas ruas e olharmos em redor, encontramos um mundo de conjugações e variações humanas desconcertantes. Todos diferentes, mas todos iguais. As aparências determinam que somos impreterivelmente díspares, no entanto, as entranhas são conciliadoramente idênticas. O que estamos então a tentar preservar? A beleza é surreal. Cada qual é único. Pormenores corporais e existenciais que definem um traço inimitável. Somos bons à nascença. Puros na razão e na emoção. Descambamos ao crescer. Esquecemos os princípios e os valores. O conhecimento esquece-se de geração para geração. O instantâneo impera e o toque no botão do sabe tudo, milagroso na sua sabedoria eternizada, permite a continuidade. O que traz de novo um nascimento? O que opera mudança ou diferença? O estado humano é estranho. Estranheza de costumes, hábitos, raças, vidas, rotinas. Vivemos sós e acompanhados. Mais sós do que acompanhados. A nossa vida é solitária. As relações são temporárias e de acordo com necessidades, vivências, familiaridade. A família aconchega um pouco a solidão e combate-a, mas, na realidade, fazemos tudo sozinhos. A extravagância desta condição solitária define-nos. E a forma como a encaramos, também. Porque nascemos? O destino interfere? Está traçado à nascença? Qual o nosso verdadeiro papel no ciclo da vida? Porque estamos aqui, neste preciso momento, assim, como somos e estamos? O estar do estado humano fascina e as perguntas ficam sem resposta, agora e sempre. Nunca ninguém falou sobre o que viveu ou sobre a morte. Aceitemos que não dominamos a vida, nem a morte e que a nossa ignorância pelos tortuosos caminhos da vida, continuarão místicos e misteriosos.