O Esquecimento do Corpo
Doces dias inocentes,
De dor desconhecida,
De moral ingénua,
De candura esquecida.
O corpo imprevisto surgiu,
Deixado ao acaso dos genes,
Multiplicidade celular consequente,
Derivação criativa crescente.
O desenvolvimento da razão,
Tudo complica inexplicavelmente,
O pensamento amadurece,
A confusão permanece.
Crescimento incauto,
Improvável bloqueio,
Alma que sonha penada,
Coração triste que padece na encruzilhada.
Tantas diferenças,
O porquê não se conhece,
Desequilíbrio visual e estético,
Estranha forma de distribuição que aparece.
Uns maiores, outros mais pequenos,
Uns largos, outros estreitos,
Tronco esguio, pernas gigantes,
Pernas curtas, tronco farto, uns inesperados preceitos.
O esquecimento do corpo,
É forçado pela mente,
Quem de si não gosta,
Olvida o passado e o presente.
Esforço inglório, o da mudança,
Ser o que não se pode ser,
Deixar-se ir, esquecer a disciplina,
Doçaria salvadora que afasta a linha.
Imaculados e perfeitos corpos,
Sonho irreal de realidade ausente,
Rigidez e rotina estonteante,
Fluir na liberdade, ser o que se vai sendo, diferente.