O Equívoco de Se Ser
Ninguém compreende,
O desígnio de ser o que se é,
De não ser o que não se é,
De ser sem ser, porque assim é.
Na longa viagem ao infinito,
No longínquo horizonte terreno,
A vida é o que se quer dela,
Sem querermos muito, ela traz-nos de volta ao que é finito.
Somos uma roseira,
Na beleza do espinho cravado,
Na cor destemida com estrago,
Na entrega do travo destemperado.
A ondulação da mente,
No imenso mar cerebral,
Desponta o ser em pensamento,
Fere de morte o fraco conhecimento.
Somos engano e verdade,
Dor e paixão,
Morte e partida anunciada,
Delicado equilíbrio sem contenção.
Encenamos os dias,
Porque as noites passam rápido,
Porque o mundo gira lá fora,
E, aqui dentro, só descobrimos o ser na hora.
O equívoco de se ser,
Aquilo que se não é,
Aquilo que os outros querem,
Aquilo que nos mata, é questão dúbia feita de um estranho querer.
O querer maior,
O querer mais,
O querer ser alguém,
O querer ser com vintém.
A lenta encarnação,
Na pausada personagem,
Esconde a devoção,
De um ser em profunda viragem.