O Amor Disperso
A paixão encontra desencontro numa qualquer relação que inicia com amor e, curiosamente, abruptamente se queda em desamor. O intemporal dispersar de energias negativas assombra o existencialismo lunático de um cortejo tempestuoso a dois. Um lado que dá. Um lado que recebe. Um lado que constrói. Um lado que destrói. Um lado que se entrega. Um lado que foge. O desperdício de tempo, desnecessário, enquadra-se numa sonhadora história emocionalmente decadente e inconsequente. A perspectiva inacabada e contínua é virtual, deveras. As expectativas nunca são superadas, existem e matam, e as más surpresas, frequentemente são achadas, ainda que não desejadas. A desilusão de uma relação temporária, como aliás, todas as relações humanas, mesmo as mais próximas e íntimas, porque a temporalidade se mede em dezenas de anos, é a premissa suposta gorada desde o início. O que achamos que corre de vento em popa, arruína-se, estraga-se, parte-se. A sua fragilidade é imensamente assustadora. A desconfiança, avassaladora. O amor ensina-se, por isso, ilusoriamente. Na verdade, não existe terrenamente e as suas mais diferenciadas personificações, revelam um incomensurável surreal cenário de dialécticas estranhas e dissociadas que culminam geralmente em pranto e tristeza aflitiva. O resguardar das emoções paralelas transpõe-se numa cadência fulcral de uma dimensão extraordinariamente comedida, a que chamamos amor. Plena de fantasia, a vida amorosa, suspensa num suspiro de amor, contrasta com a realidade profética do apaixonar com maturidade. Assim, a dispersão do amor é fundamental no entendimento perfeito de uma aventura fulminante por terras do hemisfério esquerdo e através de pessoas diferentes e ao mesmo tempo, únicas. O sentir de cada um, o sentir do amor, é uma experiência peculiar e devastadora, e dispersar esse manancial emotivo é provocatório e inatingível, para a grande maioria. Amor disperso, amor concentrado. Simplesmente, amor. Ao alcance de poucos. Amor verdadeiro e duradouro.