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A Esquina do Desencontro

Histórias de Desencontros Ficcionais (ou Não) na Esquina da Vida

O Abraço dos Miosótis

13.09.16 | Cuca Margoux

O riso das crianças, na roda fechada, invadia o espaço em redor e transbordava de encantamento e contentamento os corações felizes e inocentes. O campo verdejante, espalhava-se no raio de visão sorrateiramente e o arvoredo exuberante deixava adivinhar sombras maravilhosas, para descanso vespertino tardio. A roda girava efusivamente. Os cânticos de Primavera acompanhavam a girândola metafórica que, descontrolada, rodopiava cada vez mais acelerada. As crianças deixavam-se levar pelo cenário, pela emoção, pela alegria contagiante, tão natural e verdadeiramente deliciosa, naquela idade moça. Quando, finalmente, pareciam ter parado aquele jogo aparentemente incansável, deixaram-se cair por terra e sentiram o húmido da erva fresca nas suas vestes, nas suas pequenas mãos, nos cabelos desalinhados. Os rostos fecharam por fora e olharam o céu azul, com as nuvens em fileira desgarrada para apanhar o comboio da fantasia. A imaginação é sempre o limite. Depois, desviaram os olhares curiosos e a descoberta foi desafiadora. O prado encerrava canteiros alargados, perdidos por entre arbustos dispersos, de miosótis floridos, com as suas frágeis pétalas azuis, deleitando-se ainda ao sol do fim de tarde. Abraça-los desmesuradamente afigurava-se como uma deleitosa brincadeira proibida, tendo em conta a sua exiguidade, fragilidade e exuberância. Mesmo assim, quando um se decidiu, todos os outros acompanharam e de abraço em abraço, os miosótis foram envolvidos na fantasia mirabolante e rocambolesca dos petizes, criadores de magia real. O abraço dos miosótis revestiu-se de experiência memorável e o riso tornou a encher o ar, ainda mais vigoroso e contagiante.

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