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A Esquina do Desencontro

Histórias de Desencontros Ficcionais (ou Não) na Esquina da Vida

Novos Escritos da Era Bélica Pós-Covid - Dias 26 a 30 - Imaginação, Conflito e Improvisação

31.03.23 | Cuca Margoux

(O afundar da mente humana na consubstanciação de ilusões materialistas que despertam o pior de todos, é inequívoca senda que continua a fustigar a realidade paralela e alternativa para aqueles que ainda se sentem como estranhos numa terra de ninguém, ou só de alguém. A passagem terrena é efémera e inconsequente… Ou não.) Na vida que vamos vivendo e acompanhando, experimentando e sentindo, as coisas são dificultadas por uma entidade invisível que tudo determina e que tudo decide. O espanto pelo fantástico e pelo surreal, pela ficção e pela materialização consumista, dificulta uma estadia plena e pacífica, recria a imaginação e estimula a criatividade, mas quase sempre no pior sentido da contemplação. A rotina diária, costumeira em monotonia, independentemente do estatuto social, quebra a mente mais certeira e iluminada, e descamba em patologia banalizada que esconde verdades inaudíveis e duvidosas. O entendimento do mundo é variável, na confluência de doutrinas e ideais. Assim, aquilo que antes era, agora, é posto em causa, porque a compreensão das coisas mudou. E terá mudado para melhor? Não necessariamente. A profunda inevitabilidade que indicia a condução enviesada de explicações, justificações e argumentações para tudo e mais alguma coisa, esquecendo o que na história aconteceu e como aconteceu, evitando-se assim aqueles contornos mais delicados e sensíveis que efectivamente ocorreram, é enganadora fuga sobre a essência da espécie humana. Somos tudo aquilo que nos aconteceu e não podemos apagar o passado, apenas podemos ambicionar melhorar no futuro. “Longe da vista, longe do coração” e propositado esquecimento, parece ser a consequência imediata da tentativa de “apagar” séculos da história humana. Curiosamente, o conflito renasce a toda a hora e parece ser inevitável. Que contra-senso mais confuso, este que quer avançar e retroceder ao mesmo tempo em temáticas já bem enraizadas e estudadas. A errática memorização do passado e o entendimento divergente, canibaliza as acções presentes e demove o pensamento crítico e construtivo futuro. Ousada peregrinação à improvisação extrapolada, que alguns ainda treinam, e que destrinça a emblemática razão ilógica que empola a miragem de uma mente mais iluminada e sensível. Entre pandemia, guerra, habitação, eutanásia, sondagens, entrevistas, comentários, incidentes, moralismo, assédios, homicídio, crises migratórias, Tiktok, Chatgpt, AI, China, Rússia, EUA, UE, alterações climáticas, e infindáveis acontecimentos e variáveis incontroláveis, em boa verdade, é uma sorte estarmos vivos, aqueles que ainda o estão, e por muito universo alternativo, ou metaverso, que seja (re)criado, as coisas, pasme-se, continuam imutáveis e iguais a si próprias. O esforço humano é, portanto, tristemente inglório. As coisas acabam sempre por acontecer e o tempo acaba mesmo por passar. A morte vivida é inadiável.