No Dia de São Martinho
Cinzento escuro entardeceu o dia,
São Martinho zangou-se e ameaça subtil trovejar,
Não mais há Verão quente renascido,
O gentio esqueceu-se do bom e sincero pregar.
Castanhas, esperemos, quentinhas,
Labaredas, é certo, menos fartas,
O frio aperta destemperado a alma e o corpo,
A água pé já não aquece emoções belas e castas.
Aprende-se o renovado ritmo das estações,
Das rotinas e tradições falam as gentes,
Se calhar, precisamos mesmo de operar mudanças,
Andanças e filosofias vivenciais bem mais diferentes.
O mundo está vazio, deserto e mudado,
A sociedade escondida idem,
São Martinho, parece, também,
Por isso, o popular dia, de imprevistos, é refém.
Resta-nos esperar que tudo se recomponha,
Que a tradição seja o que era,
Que a vida e o universo real continuem na senda conhecida,
Para respirarmos descansados a existência sem fera.
Ouvidas as curiosas preces,
Deuses e Santos deliberaram,
São Martinho, por favor reconsidere,
E num festejo presente de magia crente, os eternos companheiros, ao dia perfeito regressaram.