Na Senda da Imperfeição
O vibrar da tenebrosa emoção,
Naquela comoção indolente e adulterada,
É um recair prolongado sobre a magia fictícia,
Reverter o tempo que se quer enganado em vão.
O fugidio engano obsoleto,
Naquele tempo quase imperfeito,
Enche agora o desengano atento,
Na senda comovida que preenche o estranho estreito.
A inteligência fatídica partiu,
A razão iluminada fugiu,
O conhecimento magnífico fundiu,
O saber extenso sucumbiu.
O cantarolar fez-se incerto,
O sorriso mostra-se sem espelho,
O olhar acende distraído,
O abraçar profundo é retraído.
Momentos apocalípticos e insólitos,
Na imperfeição que os esvazia,
Na temperança descomedida e resiliente,
No distinto improviso displicente.
Caminhar a passos curtos sem destino,
Sinuosa e ingénua imaginação,
Tortuoso fado inocente e esquivo,
Benigna engenhoca, aquela do ousado coração.
Não concretizar o inconcretizável,
Quebrar o fio da vida inquebrável,
Desfazer o que é exemplar e perfeito,
Envolver a tristeza num abraço imperfeito.
Esperar que nada aconteça,
Tudo partir sem querer,
Tudo sentir sem sofrer,
Tudo acabar sem assim o parecer.
Na senda da imperfeição,
No quotidiano daquela outra vida,
Na distância da razão da existência,
Na solidão abrasiva, o reencontro interior ainda é explosão.
Aceitar então a diferença,
Aceitar enfim o não ser,
Aceitar depois o enfraquecer,
Aceitar, por fim, simplesmente morrer.