Mudar
No jardim do desencanto encantado,
Os sonhos e deleites permissivos preenchem os dias,
Nostálgicas memórias cadentes reluzem,
Aprazíveis vistas translúcidas, não obstante, fugidias.
A mudança quente opera-se,
No início, apenas num tímido canto,
Depois, extravasa pelas esquinas fartas e cheias,
Enche de vida secreta o jardim das luzes, feito de encanto.
De dentro breu para fora solar,
Mudamos sem sentido,
Ou o sentido fica presente na ausência e inebria,
Numa volátil submissão descrente de perfume ido.
Lavrar a terra do corpo subtilmente,
Plantar emoções, beleza e cor,
Descansar a alma num banco quase ferrugento,
Apartar as diferenças, viver a substância, ser feliz sem dor.
Se quisermos ir mais além no céu,
A essência do nosso ser destina,
Magia intensa repele o mau olhado,
Numa teia de mutação intrínseca que termina.
O mundo não pára, não quer parar,
A vida vai tal rio doce para a foz, fluindo,
Se pararmos muito, morremos,
Se mudarmos bastante, vamos progredindo.
Sempre a dura mudança,
Sempre um ciclo eterno de estações a mudar,
Sempre uma frágil e débil esperança,
Sempre o desejo de poder continuar a sonhar.