Momentos Fugazes de Felicidade
Quando ladeavam a ribeira florida e perfumada, repleta de vida, cor e alma e de gentio perpetuado nas esquinas de cada ruela bairrista, pelas suas façanhas eternizadas na glória fadista, e escutaram as suas vozes interiores, recordaram, de novo. Olharam em redor e observaram o rio a desaguar, as pontes penduradas do céu, os rendilhados agrupados da imagem da escadaria de bairro, que vão subindo, por patamares, até atingirem a colina por trás do sol posto. As urbes vão crescendo para os céus. O céu é o tecto limite do observatório lunático da fantasia humana. O movimento é estonteante. Pessoas mexem-se numa eterna dança de cadeiras sentadas fictícias e arrumadas e carros esquecem os sentidos obrigatórios das vidas que correm nas vielas estreitadas. O escuro das fachadas urbanas destoa da cor lá em baixo. Uns andares acima e entramos na perspectiva relativa da variante faunística dos visitantes inesperados dos telhados perdidos e das varandas ocupadas. Sorriram. Fotografaram cada momento. Pequenos momentos simples de prazer e felicidade, com a fugacidade não ambicionada pelo ser, entranham na memória e a saudade ficará. A volta continua. A marginal traz a brisa marítima. A ribeira é rio e o rio é mar. Os cheiros intensificam-se e os sentidos apuram. A corrida contra o tempo é esquecida e continuam percorrendo os caminhos da cultura e do conhecimento. Os petiscos do intelecto alimentam o coração já conquistado. Lá em cima, nas praças, ainda há surpresas. Ruas mercantilistas povoadas de emoção e lojistas com expositores de tempos modernos e de tempos antigos. A calçada escorrega a tristeza do chão pisado, milhões de repetitivas vezes, pelos mesmos pés e por pés novos, que se omitem despropositadamente do olhar para baixo, o olhar para a arte que pisam. Aconteceu que se apaixonaram por todo aquele cenário diferente. E quiseram ficar. Um momento parado num minuto de pura beleza singela. Os momentos fugazes de felicidade, são isso mesmo, fugidios e temporários, mas propensos a existência real, por isso, quando surgem, há que os agarrar e apertá-los bem, num abraço sentido e terno.