Mocho
Sombra na escuridão, fantasma inesperado, canto assombrado de desconcerto feito, o mocho hipnotiza com o seu olhar expressivo e acutilante, a sua mítica e intemporal sabedoria, os seus movimentos rítmicos e rotineiros, a sua graciosidade tocante e a sua cativante e cândida personagem figurada de mística, embebida em travos turvos de exuberante e envolvente magia efémera.
Quando olhava para ele, expectante, na penumbra da floresta encantada, perdi-me no tempo e regressei ao passado das histórias e das lendas audazes, das tradições e vontades perdidas, dos espelhos mágicos e das criaturas dos contos de fadas. Petrifiquei. Fiquei estática. Esperei. Nada aconteceu.
O mocho inquietou o meu espírito, mas nunca se mexeu. A imobilidade temporária, manteve o seu status quo resiliente.
Quando, finalmente, me mexi, abriu, então, num momento de inesperada fantasia, as asas, libertou-se dos espectros embrenhados, do manto do conhecimento, que caiu sobre mim, e voou para longe, para bem longe, não sem, no entanto, olhar para trás num último adeus sentido. E compreendi.