Maresias Perfumadas
O cheiro matinal a mar intenso,
O perfume quente de terra esquecido,
A costa abrupta rude que se fecha,
Fotografia memorável que o corpo traz aquecido.
Lembro vidas ricas e antigas,
A brisa ardente nas faces queimadas,
O sol que aperta o inverno duro,
As barcaças no horizonte embaladas.
Marés e maresias,
Perfumadas tentações esquivas,
Cantos de sereia duvidosa, escondida,
Num oceano de sentidos, invadido por belas divas.
Peixes e mamíferos,
Baleias, cachalotes, golfinhos,
Fauna que brinca com os desatentos,
Quem lança redes, depressa sente os frustrantes desalentos.
Olha-se a imensidão azul,
Percorre-se o horizonte infinito,
Escrevem-se linhas desordenadas,
Pescaria distante, colmata num escutar de doce delito.
Docas acesas na madrugada,
Movimento repetido ondular do gentio,
Dinâmica grupal singular e cadenciada,
Aperta-se a fome e o sustento de invernio.
Nomes de descendência espirituosa,
Famílias que gerem negócios ancestrais,
Embarcações na tempestade constante,
Fé e rezas sentidas, nas preces dos mortais.
Lamentos levados pelo vento,
A vida continua nos filhos,
O negócio não mata a alma,
A essência pura cresce no coração do mar que se ama.