Mãe
Ela contemplava estarrecida o mar,
Naquela tarde esquecida preenchida pelas cores do Outono,
Pensativa, olhos de vitral, sonhava com a sua profusa vida futura,
Num maravilhoso e expectável retorno.
Retorno de energia mágica,
Retorno de emoção sentida e comoção,
Retorno de iluminura sábia,
Numa pura e merecida, bela e simples contemplação.
Contemplação regrada de estares,
Disciplina imortal demorada,
Virtude imaculada virginal,
Ternura e candura guiadas e fluindo do coração.
Coração feito de alma e movimento,
Cadência perfeita de ritmos compassados,
Esconderijos de Deus perdidos num labirinto,
Com o sonho de mantos aconchegantes louvados.
Louvados os iluminados,
Como ela, assimilam conhecimento e verdade,
Sorriem perante o abismo dos tempos,
Apontam ao horizonte da vida numa longínqua herdade.
Herdade é terra, mas ela vislumbra o mar,
O mar da tranquilidade, da inspiração,
Dos factos e das coisas,
Da fantasia também, da partilha e da comunhão.
Fecha os olhos, doce Mãe,
Deixa-te levar pelas vozes hipnotizantes das sereias,
Pelas histórias dos homens antigos, perdidas no tempo,
Apaga todo o mal e cria apenas belas profecias.
Profecias esperamos,
Lendas singulares evocamos,
Cânticos deambulantes ouvimos,
Searas ao vento sentímos.
E assim se fez do mar terra,
Os seus sentidos misturaram-se,
A árvore da vida abraçou,
No leito da senda cresceu, se formou e amou.
Amou e foi amada,
Ama e é amada,
Deu frutos o amor,
Nasceu uma família por todos adorada.
Adorada como ela,
Adorada como Mãe,
Os anos passarão e a sua essência ficará,
Na memória e na génese única e singular da sua família lá lem.