Escritos de Era Bélica - Dia 2 - Quase Um Mês Depois, no Natal
(O mundo que se vai renovando não é o mesmo. Nunca foi. O passado foi facilmente esquecido e os monumentais distúrbios bélicos e revolucionários concentram continuamente os esforços nada subtis de desencantados guerreiros, que se resignam perante o impasse das guerras equivocadas que se vão desenrolando por esse espaço terrestre fora. Não somos pacíficos. Somos incrivelmente derrotistas e destruidores. O espanto maior é acreditarmos na esperança de paz e de harmonia intersocial e intercultural. Os desígnios da obscura mente humana são insondáveis. O futuro imprevisível. A razão, apenas ilusoriamente, plausível. O espectro da mortalidade é incontornável. O tempero da alma é faminto grito de contemplação positiva enganosa. Somos pó, alguém disse. Somos cinza, alguém relembra. O que não somos, não sabemos.) A minha linha de pensamento formal, há muito afunilou e se perdeu. Na confusão de uma qualquer memória mais acesa, a boa intenção esvai-se no improviso. O propósito ausente aparta e a lógica emocional contrapõe-se. Se soubéssemos o nosso futuro, a nossa história, quereríamos mesmo ter vivido? Acredito que sim, apesar do coração ter sérias dúvidas sobre a verdade das coisas realmente positivas que experimentamos. Em boa verdade, quer-me parecer que a continuidade é a “alma” do negócio da humanidade. Perpetuação e herança, genética e imortalidade da espécie. O cerne é esse, no entanto, entendem uns, mais que outros, que há necessidade de intervencionismo mais ou menos divino, para controlar e direcionar cirurgicamente o legado da descendência e, assim, há todo um sentido de determinismo destrutivo fatalista que impera paralelamente no cérebro humano pensante, e que confunde toda a dinâmica de interacção humana. As catástrofes naturais e artificiais definem a linha condicionadora de uma evolução consequente. Somos liderados por competentes, ou talvez não, talvez tenham tido apenas sorte e oportunidade, sabedores estrategas do conhecimento humano. Mas, seremos no cômputo geral magnânimos no que fazemos? E fazemo-lo bem? Pelas razões certas? O que potenciamos com a desigualdade e com a ambiguidade? Com a dualidade e a falsidade manipulativa? Somos mesmo “conversa fiada”? Ou “afiada”? Nestes tempos controversos e extremamente complexos, e neste dia mais curto do ano de 2024, seremos capazes de abraçar de novo um renovado sentimento de esperança, de benevolência e de compaixão? O mundo está e continuará do avesso, até que as boas premissas sejam assimiladas e que o poder dos homens (porque o poder continua a ser maioritariamente dos homens) seja canalizado para o altruísmo, para a entrega e para o compromisso com a justiça e com a aceitação mais moderada e equilibrada, para a boa decisão e a escolha correcta que se quer seja feita com o devido bom senso e a ponderação necessária. É Natal, o que quer que isso verdadeiramente signifique nos vossos corações e para as vossas famílias, e não nas vossas carteiras. Então, deixemos fluir o bom espírito e a magia das estrelas, e sejamos todos, a partir de agora (e não só no Natal), um pouco melhores.