Dia 9 - Saigão Away
Amanhece aqui, anoitece aí. E vice-versa. Este enfadonho quotidiano, feito de desencontros é recorrente. Nada de novo. Silêncio ensurdecedor, mas vais dando notícias. Estás vivo e pensas, algures, ainda em mim. A minha inquietação acalmou. A acalmia do costume tranquiliza ilusoriamente, é certo. Vou-me distraindo com o trabalho, a família, os amigos. Tudo serve de pretexto para não pensar em ti. Os dias diminuem, tal como o tempo para te voltar a ver. Ou não. Nunca sei o que planeias, nunca sei nada. O Outono assenta e vou-me conformando com o incontornável suplício de aceitar as coisas tal como elas são, não como deveriam ser. E vou fazer o mesmo que tu fazes. Fazer o que me apetece, quando me apetece, com quem me apetece. É um exercício mental que se treina. A estratégia é desligar e viver a vida, pensando apenas em nós. Isto soa assustadoramente horrível, porque não sei se o consigo fazer, nem sei como o fazer. Tu também não o fazias. Mas, sabe-se lá porquê, começaste, um dia. Talvez, com o eterno medo da morte e da vida não vivida. E esqueceste-te dos outros e da mágoa que neles causas. Gostava de me sentir especial, mas não sou. Estou na lista comum, tal como todos os outros. Hoje, Saigão. Que trará o oriente? O que te fará? Virás mudado? Ainda mais? Tenho tentado decidir ir na onda, como tu, e não me preocupar. O pior que pode acontecer é eu ficar sozinha, e, isso, eu já estou, na grande maioria do tempo. No início, não era assim. As coisas mudam, as pessoas mudam, as relações mudam. Tu mudaste. E eu, estou a mudar.