Despir o que Somos
A elevação num qualquer promontório deixaria adivinhar, ou não, uma passada decidida e cadenciada. Numa outra dimensão o ser existe despido de futilidades icónicas e demagogias primeiras. Espera-se que a narrativa conte uma história e que haja um herói ou uma heroína. Na realidade, somos o que somos, simples e sem grandes aparatos festivaleiros. Vestidos, convencemos as hostes e comunicamos poder imaginário. Despidos, somos vulneráveis, atingíveis, mas verdadeiros. Despir o que somos é um exercício feliz. Se nos cansarmos de sermos nós, podemos divergir numa apoteótica conversão virtual de sonhos irrealizáveis. A verdade apura-se, depois. O agora do ser é o presente da estruturação individual e individualizante. O que somos pois? Despidos de tudo? Igualitariamente honestos, ao mesmo nível, subsequentemente imaterializados e propensos ao mundo surreal. Assim, nivelados, podemos comparar vivências e experiências. Despir o que somos. Ou o que não somos. Ou o que queríamos ser. Ou o que sonhamos ser. Ou o que temos. Insondáveis momentos de espiritualidade que abarcam a vida paralela. Utopias invernais numa tarde primaveril. Encontros desencontrados, numa fita contemporânea. Sustos e consequências num jogo perigoso e desconhecido. O contexto situacional determina reacções e só depois se aprende o que verdadeiramente somos. Iguais na desigualdade. Desiguais na humanidade. Somos o que nos deixam ser. Vestidos ou despidos.