Desencontros Casuais
O passeio era largo e a ausência pesada, por isso, quando passavam por mim, os espectros das pessoas sussurravam e relembravam-me o motivo delineado na minha mente. Uma mente demasiado ocupada com futilidades castradoras que submetiam a minha existência a uma irrealizável panóplia de profundas crenças perfeitamente descrentes. O embaraço de esbarrar aqui e ali, na esquina de um café, no vento que abranda, na visão do futuro, na encosta plana, fazia-me viajar num sonho, acordada. Ela queria gritar e não podia. Eu queria fugir e não conseguia. Nós estamos loucos e não sabemos. Eles sofrem em silêncio e calam. A casualidade do universo paralelo que nos atravessa, por momentos, só de vez em quando, lança no ar o vislumbre de uma vida que não é a nossa, bem o podia ser, mas nunca será. Resignada à minha insignificância e incapacidade para mudar o mundo, esbarro, de novo, naquela Lua que desceu à Terra. Uma Lua irreal, gigantesca, que deixa adivinhar a tempestade estéril de conhecimento ou saber. Abraça a estrela mais próxima e conta-lhe um segredo. Desencontrei-me, por momentos, do meu eu do agora e viajei até ao futuro. Não. Até ao passado. E era bom. Tudo era mais fácil. Se calhar, os desencontros casuais que me fizeram mudar inconscientemente, provaram a sua força e magnitude e o poder de mudar o eu do passado. A vida sorri. Eu sorrio. Continuo a ligar aos desencontros casuais. Eles fazem parte da vida. E trazem coisas boas. E, por isso, Always look on the Brigth Side of Life. Always.