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A Esquina do Desencontro

Histórias de Desencontros Ficcionais (ou Não) na Esquina da Vida

Carta a Uma Filha Adolescente

29.04.16 | Cuca Margoux

Minha Querida Filha,

Quero que saibas que te amo muito e que faria e tento fazer tudo ao meu alcance para que sejas feliz.

Admiro-te e orgulho-me de ti.

Percorreste uma ínfima parte do longo caminho que te espera e, por isso, há ainda muito para aprender e descobrir.

Não queiras crescer cedo demais. Tudo leva o seu tempo, tudo tem o seu tempo.

Vives o agora, o concreto e esperas que todos vejam as coisas à tua volta como tu as vês. Não compreendes porque, muitas vezes, não conseguem perceber as tuas opiniões, atitudes e comportamentos. Afinal, para ti, é o que está correto e faz sentido. E especialmente a mãe, que sempre te compreendeu e apoiou, agora, zanga-se mais contigo por coisas que achas que fizeste bem e que já tens o direito de fazer. “Já sou crescida e sei o que faço”.

Pois é, mas, com os direitos, vêm os deveres. Com o crescer, vêm as responsabilidades, as regras de boa e sã socialização, o respeito pela família e pelos mais velhos, porque a compreensão, agora mais amadurecida, assim o exige.

Quer seja em casa, na sala de aula ou na piscina, no amor, na morte, na amizade, na comunicação, na escrita, no dia a dia, há regras que todos temos de cumprir, sob pena de vivermos no caos, onde todos fazem o que lhes apetece, quando apetece e como lhes apetece.

Se um médico, numa operação, não respeitar os procedimentos criteriosamente, corre o risco de matar o doente, de ser processado pela família do mesmo e ainda incorrer num processo disciplinar interno. Se numa relação não houver respeito mútuo e o casal se agredir fisicamente, corre-se o risco de alguém se magoar seriamente e de haver danos permanentes, assim como acusações criminais que culminem em penas de prisão. Ninguém ganha. Ninguém fica feliz.

Ninguém diz que ser adolescente é fácil, ninguém diz que crescer é fácil, mas, ser mãe e pai é igualmente difícil, porque já se passou por todo o processo de ser adolescente, sabendo exatamente o quanto este processo pode ser penoso, e volta-se a sofrer duplamente, o mesmo processo, as mesmas angústias, com os filhos.

E claro, muitas vezes, na ânsia de proteger, magoa-se, sem querer, porque é muito duro ver o nosso filho prestes a cometer um erro perfeitamente evitável e desnecessário e não o podermos proteger. É realmente desesperante.

No entanto, com boa vontade de todos, paciência, comunicação, confiança e respeito mútuos, pode ser tudo muito menos doloroso e penoso e até divertido, porque se pode aprender com as experiências de todos. Basta conversar sobre os limites e sobre as regras, sem infantilidades. Todos somos razoáveis. Até os pais.

 

Com Muito Amor de Mãe.

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