As Regras
As regras determinam acções, comportamentos e condutas, regulam, regem, dirigem. Para tudo há regras. Para tudo temos regras. São necessárias, perante a diversidade das civilizações e das sociedades. A sua existência é, aparentemente, obrigatória. São aquilo que nos permite compreender e percepcionar, supostamente, o correcto, o justo e o mais equitativo. Ou não. Na realidade, em boa verdade, as regras, pela sua intransigência efectiva, racional e operacional, permitem, a alguns, cuja boa índole se revele eventualmente desviada da padronização positiva geral, enveredar por caminhos mais obscuros e alternativos, subvertendo assim a verdadeira essência, conteúdo e fundamental enquadramento e contextualização da sua objectiva aplicação. A objectividade é muito importante na decisão humana. A objectividade dos factos, da análise, da capacidade de sintetização de conteúdos, situações e problemas. Pela extensa diversidade social e cultural, determinou-se criar um sistema regulador que permita governar o caos. E o caos, somos todos nós. Enquanto seres que se querem (e são) pensantes, guiados pelo livre pensamento e expressão, somos, enfim, ameaçadores da ordem estabelecida. Se desafiarmos em demasia as regras ou se as quisermos alterar, a profunda mudança mental implica uma reestruturação social, cultural e organizacional que transtorna a dinâmica implementada e controlada, mas, recorrendo única e exclusivamente à aplicação taxativa das regras, podemos também incorrer em injustiça situacional. Enfim, as dúvidas são plausíveis. Uma batalha antiga reforça a necessidade de haver o necessário enquadramento e a fundamental contextualização situacional. As regras são assim importantes, mas quando devidamente enquadradas e contextualizadas. O problema é que na grande maioria das vezes, a argumentação factual revela-se incompleta ou insuficiente. É por isso que contar as histórias por trás dos acontecimentos se torna tão pertinente. Escutar todas as versões, conhecer todos os factos é percussor de uma aplicabilidade mais consistente e justa das regras. Outra batalha antiga tem a ver com a ponderação e o bom senso que ditam essa mesma correcta aplicabilidade. No entanto, um dos problemas que temos, recorrente, é que começando a questionar tudo, o que à primeira vista seria até positivo, não conseguimos aceitar regras, e isso gera a anarquia radical. Por algum motivo verdadeiramente inexplicável, a intemporal volatilidade da acção e do comportamento humanos, bem como a sua imprevisibilidade, são condicionadores reais que ditam a necessidade e a obrigatoriedade da existência de regras. Esta dualidade é mediada pela busca constante de um equilíbrio que encontre o balanço perfeito entre o que é, o que deve ser e o que deveria ser. Conseguiríamos mesmo viver uma existência pacífica sem regras? Consensualmente, parece que não.