Apesar de Tudo
Se repararmos bem, na verdade, nunca conhecemos bem as pessoas. Surpreendem-nos e assustam-nos, quando finalmente se revelam. Na realidade, os apertos e surpresas menos boas da vida despertam em todos, substancialmente, o seu eu interior pior. Raramente, o ser humano mostra o melhor de si em situações de alto stress e tomada de decisão abrupta. A pressão e a necessidade de um encaminhamento lúcido e eficiente definem, por norma, o despoletar de emoções descontroladas e irracionais, profusamente emotivas e dramáticas. O amor mata e o coração desfalece. Por breves momentos, apartamo-nos do mundo e esquecemos a vida terrena. Neste fio de luz distante, em que permanecemos encarcerados, revivemos a nossa história e amamos mais do que nunca. É uma pena, não ficarmos presos por lá eternamente. Quando acordamos, esquecemos. A memória do que era bom é apagada. Maldizemos a existência e frustrados, continuamos a luta diária até ao infinito, o que quer que isso seja. Apesar de tudo, estamos vivos e isso, segundo dizem, é o que importa. Tudo o resto são devaneios e diarreias mentais que nos absorvem estupidamente, numa desproporção funesta e tortuosa.