A Vontade do Cosmos
Determinou-se instituir um conjunto de regras de socialização, individual, familiar e profissional, que comungam, na grande maioria das vezes, pela sua natureza forçada, de sintomatologia contestada rotineira e grosseiramente, mas consequente. Na realidade, o potencial de diferenciação humana enviesa esta pré-determinação maquinada, a qual se traduz num caos inter-relacional, uma vez que a actuação humanizada se pauta por comportamentos, frequentemente, contrários à real vontade intrínseca. É certo que sem estas regras, um caos maior adviria, mas a busca pelo equilíbrio relacional é factual, incisivo e decisivo em sociedade. Voltamos, no entanto, e sempre, à questão emocional. As emoções formam-se mais concentradamente do que as reacções controladas. Assim, a ténue linha que aparta o racional do irracional emocional, definha com o desconcerto existencialista. A moderação comportamental deteriora-se e os extremos atingem-se. A história comprova que a humanidade, o ser humano, é de extremos. Parece, pois, que há uma vontade maior, iniciada num patamar existencial subconsciente, um cosmos neural subliminar que massifica as acções e que consubstancia a moralidade ou não dessas mesmas acções. Os conflitos familiares, laborais, as lutas do eu e do ser ou não ser, do saber e do existir, do futuro ou do presente são provas de uma vontade alheada imposta, não por convicções pessoais, mas sim por convenções generalizadas e generalistas. O condão do determinismo fatalista assombra a vivência e assusta os audazes. A vontade do cosmos apaga-se e esquece-se. Dissimula-se uma felicidade inexistente, abraça-se a ficção realista do universo paralelo e imaginário. O advento da contrariedade aquece o parafrasear da ambiguidade desigual e da conversação abstracta. Paremos, então, com o desafio extraordinário de podermos, querermos e de sermos diferentes. O cosmos é perentório, a decisão unilateral e a história dificilmente alterável. Abracemos, pois, o convencionalismo comum e deixemo-nos engolir pelo preconceito, pela falta de visão, pelo mutismo selectivo, pela linha de produção invariável e pouco criativa ou inovadora que cerca a vida, que cerca e condiciona a razão emocional do ser. Deixemo-nos levar na ilusão do presente e adormecer para a vida, finalmente, indefesos.