A Crise Turca
Assistimos, todos os dias, a mudanças políticas com uma radicalidade impensável, há algum tempo atrás. O inesperado é uma constante e a estupefacção incrédula, uma realidade comprovada. O governo mundial era exercido com discrição, mas, ainda assim, parecia ter alguma vigilância controladora, mais ou menos minuciosa, sobre os acontecimentos e governações nacionais, mais ou menos ditatoriais ou democratizadas. O equilíbrio pensado, quase perfeito, desequilibrou, portanto, e a political network influenciadora, as redes de backup e sustentação deste debilitante equilíbrio fictício, quebraram algures. A manta de retalhos é tal, neste momento, que as lacunas por preencher começam a não ter viabilidade de retorno real à normalidade, ainda que precária, e que rotinava naturalmente, no passado presente. Parece que o mundo entrou em convulsão generalizada e descontrolada e que não há mão visível ou invisível que nos valha neste marasmo civilizacional. As culturas tão diferenciadas e a veemente heterogeneidade social, económica, financeira e política transbordam nas media news que nos vão deixando desalentados quanto a um futuro pacífico e civilizacionalmente sustentável. A crise turca é, apenas, mais um desses focos paralelos que fazem parte do puzzle global e globalizante das crises mundiais que ocorrem, um pouco por todo o lado, neste preciso momento. África, Ásia, Europa, Estados Unidos, enfrentam um precedente sem igual. O terrorismo está mais arrojado e criativo, o poder político mais focalizado nas suas questões pessoais e na dinamização de políticas que ferem o conceito de liberdade e os direitos humanos a tantos e variados níveis, a concertação mundial que se aparta de acordo com interesses económicos e financeiros, a humanidade e os espíritos humanitário, social e civilizacional que se estão a perder, os princípios e os valores pessoais e sociais que se estão a esquecer. Assim, e tendo em conta o contexto actual, não se compreende o espanto ou a surpresa da comunidade mundial, perante a cada vez mais frequente e intensa onda de tomada de posições radicais ou extremistas. Apesar de estarmos na era moderna, é impensável e incompreensível continuarmos a ter os níveis de pobreza, de miséria humana e os conflitos bélicos que temos. Obviamente, um regime igualitário que abrangesse toda a população mundial seria o ideal mais interessante, mas, comprovadamente, é uma utopia, no entanto, há mínimos que parecem ser potencialmente alcançáveis. Caminhamos todos apenas para a frente, sem saber muito bem para quê ou porquê, mas sem união e sem o tal propósito comum, enquanto espécie. É difícil, por isso, termos esperança num futuro promissor e duradouro. E a realidade, cada vez mais, tem vindo a demonstrar isso mesmo. Para mal dos nossos pecados.