A Crise do Existir
Por certo, já todos (ou quase todos) se interrogaram sobre o vosso parco e insignificante processo existencialista. Ou, talvez não. De parco, nada tem, e de insignificante, muito menos. De qualquer forma, ainda que por breves instantes desacreditados e fugidios, e especialmente em situações de perigosidade dolorosa, se terão questionado do porquê de tais acontecimentos inexplicáveis e tão sofridos. A crise do existir é uma fatalidade, inevitável e consequente de todo um esquema sequencial que nos é imposto desde o primeiro dia de pensamento sensorial humano. Quem somos? De onde viemos? Porque somos assim? Para onde vamos? O que fazemos aqui? A questão que se coloca é: como vamos enfrentar este grande desafio? Subjugando-nos ao que é expectável que seja a nossa vidinha de montante a jusante, submissos, acalentadores de esperanças desesperadas vãs, mudos e quedos a tudo e todos, numa linearidade contida e propensa à exploração imaterial e rotineira ou, revelando a nossa essência divergente, criativa, brilhante, iluminada, promissora, exuberante, exótica e futurista? A alegria do ser, a felicidade do existir, o amor de condição incondicional, o verdadeiro, aquele que não é alienígena, que é vivido e sentido, tudo converge e transpõe as barreiras da crise do existir, cuidando que a força interior se sobreponha ao embrenhar imprevisível das fronteiras sociais do humano desumano. As falas intrínsecas escutam-se com contenção, mas, ainda assim, desterram a crise do existir. Os actos demasiado pensados são limitadores de propensões despedaçadas, mas deixam de se sentir na pele, porque o sonho nivelado já não existe e as fantasias de outrora sugam as energias, há muito extintas, dos planadores mentais que algures, num tempo ausente, encheram de fé a alma humanizada pelas estrelas. Não falemos, pois, do tabu da crise do existir. Celebremos as coisas simples e boas, verdadeiramente boas, do nosso parco e insignificante processo existencialista.