Novos Escritos da Era Bélica Pós-Covid - Dias 491 a 511 - Os Destemperos do Europeu, da Europa e dos Estados Unidos
(O tempo da magia deambulante que se controlava pela indubitável e profusa comunicação imperceptível e conclusiva, complementada pelo controlo do dano colateral, engana agora o sentido lógico de um percurso global incerto e imprevisível. A mente humana encontra o labirinto intrincado por si criado. O que se escreve direito acerta-se no torto da condução erradamente considerada mundana, despertando nos interlocutores distraídos dinâmicas condicionadas que revertem sempre nos mesmos enfadados comportamentos. O universo tudo espera, numa perspectiva sonhadora e ficcional, na esperança de que um dia todos se sintam tentados a meditar sobre o bem e sobre o mal, sobre o certo e o errado, numa relativização crítica e substancial que guie a humanidade a uma harmonia ideológica e convencional aceite por todos e justa, entendível pelas sociedades como quase perfeita e benévola. Os dias discretos, da subtileza disfarçada terminaram, e com eles aquela tal palavra e uma outra honra. Demasiado extremado? Inconformismo formalizado? Revelação inquietante? O certo é que a realidade desponta num amanhecer de incerteza certa e anoitece na indiferença consequente, mas reconfortante, porque a rotina traz certeza e paz de espírito.) O estado da alma lusitana aquece ao som do apito do árbitro. O focus cerebral concentra-se no esférico da bola, que magistralmente continua a aglomerar olhares extasiados perante um ecrã que se torna verdadeiramente mágico durante 90 minutos. Uma união inexplicável e uma euforia fenomenal que se traduzem em alegria, felicidade e exuberância. As vivências intensificam-se e as estrelas das almas desportivas brilham com mais força. Uma força interior que enche os corações e que faz esquecer, durante aqueles preciosos 90 minutos, as agruras do mundo. A nossa selecção lá está a fazer o seu caminho. Que seja um caminho longo e vitorioso. Que continue a encher muitos mais corações lusitanos. Porque da queda também se faz vitória, porque na queda se aprende a humildade, porque a queda permite o erguer de novo. Somos destempero em transformação. Para melhor. E na Europa, ainda europeia, a manifesta luta destemperada pela tentativa de reconciliar as diferentes posições políticas dos 27, é o desafio no nosso ex-Primeiro Ministro. A Presidência do Conselho Europeu dignifica o país e é oportunidade de ouro para algumas boas revelações e acções, assim se espera. Somos um país pequeno, mas um país extraordinário. Assim sejamos capazes de continuar a acreditar que os nossos destemperos são mesmo temporários e que a malfadada sina portuguesa da má sorte e do fadado fado é pura ilusão teórica, pautada apenas pela falta de confiança que nos acerca pelo facto de historicamente termos tido milhentos contratempos, os quais, afinal, acabaram por nos trazer aonde estamos hoje, tornando-nos mais corajosos, mais fortes e seguros, reconhecidos pelos pares e conhecidos pelos que ainda não nos conheciam. Somos bons. Podemos ser ainda melhores, assim acreditemos em nós com muito positivismo e infinita esperança. A Europa está num momento de viragem, mas de muita dúvida, especialmente no que diz respeito aos valores e princípios defendidos pelo ideal europeu. Assim, no destempero da razão confusa europeia do momento, há que reencontrar o caminho da democracia, da união, da liberdade, da boa fé e da esperança bem temperada. E como se não fosse só o rebuliço político europeu, que preocupa com a guerra e com a falta de segurança, temos também do outro lado do Atlântico o rebuliço político americano, determinante nas suas consequências para a Europa e para o mundo. Os americanos são um povo curioso, porque é feito da essência de muitos povos. Um mix, por vezes, complexo de muitas e variadas culturas, formas de estar e de viver, e de entender o mundo. Os candidatos presidenciais dividem os americanos, é por demais evidente, por todo um conjunto de razões e variáveis que não se conseguem harmonizar de forma a promover o equilíbrio e a harmonia, e a conquista dos seus eleitores, que tanto desejam. São figuras de complexidade diversa, os candidatos presidenciais. O primeiro debate, e embate, entre ambos ficou aquém das expectativas e o conteúdo foi de filtragem, positiva e produtiva, convenhamos, insuficiente, com um retorno muito pouco esclarecedor, ao nível político e programático, e de interesse desinteressante, revertendo numa luta de egos magoados. Ambos embalaram, aparentemente, na novela da vida mundana. Por isso, estas eleições americanas, acompanhadas bem de perto pelos europeus, condicionarão, quer se queira, quer não, o futuro global. Quem ganhar, determina com bastante peso os destinos do mundo. É um facto. E as versões políticas são antagónicas e bastante consequentes. Estes destemperos muito temperados, que se vivem um pouco por todo o lado, quer sejam futebolísticos, europeus ou americanos, desconcertam as vivências sociais e em sociedade de forma significativa, mas o impacto real só acontece quando ao nível da diplomacia, e da democracia, não se consegue encontrar consensos e lógicas de actuação comum. O comum dos mortais, esse, ainda vai vivendo alheado, na ignorância, das grandes questões estratégicas e, se calhar, ainda bem, porque somos talvez mais felizes, até porque pouco ou nada se pode contra o poder subtil e discreto que comanda o backstage do viver, crescer ou morrer deste mundo. Destemperos à parte, e factos concretos evidenciados esquecidos, todos podemos mudar o mundo, nem que seja o nosso pequenino mundo, mais próximo, assim o queiramos, e possamos, fazer.