Estado de Calamidade - Dias 51 a 61 - Ómicron Parte II, Eleições Surpreendentes e, Afinal, a Vida Continua
(A política, afinal, ainda consegue surpreender sem tão outrora gritante animosidade e parece reforçar, de novo, a sua substancial relevância… Não fora a obtusa e desconcertante eternizada pandemia e, talvez, as surpresas inesperadas não fossem tão espantosas. O atenuar de um qualquer impacto mais ou menos negativo é irrelevante, porque a realidade é incontornável e o nosso pequeno mundo pasma de incredulidade com tendência aparentemente mais positivista… Ou não.) Agora que nos pseudo habituamos à realidade diária pandémica e à sua numerologia sempre muito impactante, mas estratégica e metodicamente mais bem trabalhada e, portanto, mais “digerível”, assim como ao esquema vacinal “milagroso” e libertador, quando completo (independentemente das mazelas obscuras que vá infligindo por aqui e por ali), a rotina determina que as energias de todas as mentes pensantes, iluminadas na sua profusa sabedoria e sapiência, se concentrem no apaziguar concertado e conjugado da crise económico-financeira provocada pela dita pandemia e que continua a afligir sobremaneira e cirurgicamente certos sectores da indústria, dos serviços, mas também agrícolas. Há que notar que embora a Ómicron tenha criado em todos nós um estado de resignação apática consternada inevitável, a nova variante BA 2, desperta-nos ainda desse estado de letargia, relembrando que a actividade viral subsiste e que as regras de protecção individual e comunitária continuam a ser fundamentais e cruciais no combate à Covid-19. As questões de contra-informação permanecem latentes no ar, por certo, há ainda muitas questões para as quais não há uma resposta linear e a comunicação institucional continua a necessitar de decisiva e crítica optimização, no entanto, temos avançado a passos moderados na conquista de novos conhecimentos e saberes, mais consistentes e consubstanciados, que nos permitem lidar com maior segurança e com maior confiança com esta infernal doença. Pelo meio, e nos entretantos alongados de todos estes desenvolvimentos pandémicos, a vida política do país e do mundo vai-se desenrolando de forma extraordinária e imparável. Por cá, as eleições legislativas trouxeram novidades imprevisíveis: uma maioria inesperada, ascensões e quedas, tropeções, sobressaltos e mortes quase anunciadas. Esquerda versus direita. Direita versus extrema-direita. Votos mais ou menos (in)úteis, alegrias e muitas tristezas. A política também é, afinal, “circular”, no entanto, a sua reciclagem é mais implosiva e capaz de reutilizações muito mais criativas, inovadoras, inopináveis e arrojadas. E, assim, a vida, afinal, continua, com quadros referenciais alterados, com mudanças significativas, com transformação e metamorfização, com enigmas e mistérios, com avanços e recuos, com sobrevivência no horizonte, com sustentabilidade no discurso, com mais humanidade nas causas, com razoabilidade, ponderação e bom senso nas acções e nos comportamentos, com esperança no futuro. Não sabemos o que o futuro nos reserva, ou se a vida tal como a conhecemos continuará a existir, mas queremos muito acreditar e crer que todas as coisas que fazemos enquanto espécie nos trarão uma maior felicidade e nos tornarão melhores, enquanto pessoas, enquanto sociedade e enquanto desígnio civilizacional. Ou, talvez sejamos apenas um “erro” genético e existencialista descartável, ao qual é permitido apenas uma vida temporária, por força de “necessidades divinas extraterrenas” incompreensíveis que nos conduzem através do tempo e do espaço numa viagem ilusória sem retorno.